No trabalho, saber ouvir é mais importante do que falar

Dale Carnegie, autor do livro Como fazer amigos e influenciar pessoas, publicado na década de 1930, já dizia que "ser um bom ouvinte é uma das coisas mais potentes quando se trata de aumentar sua influência e as chances de as pessoas gostarem de você". Oito décadas depois, essa afirmação continua válida, porém encontra um desafio: as distrações promovidas pela tecnologia e, consequentemente, a falta de foco. Uma prova está nas reuniões, almoços de trabalho ou ainda em encontros com os amigos. Sempre há alguém "distante", distraído com o celular ou com a cabeça em outro lugar durante uma conversa.
Essa falta de foco, além de prejudicar as relações sociais, também pode afetar sua carreira. Saber ouvir está entre as principais habilidades valorizadas pelos empregadores - e ainda pode ser definitiva para uma promoção a um cargo de liderança. A boa notícia é que é possível livrar-se das tentações que tiram nossa atenção durante momentos importantes e aprender a conectar-se com o presente.
Wayne Valim, especialista em Inteligência Comportamental e Alta Performance de Pessoas e Organizações, fala sobre o assunto na entrevista a seguir.
Jovens Braskem: Ouvir com atenção quem está falando é uma atitude cada vez mais rara. Por que é tão importante resgatar a escuta e o sentido de presença?
Wayne Valim: Desde pequenos, somos estimulados a falar. Há uma enorme expectativa para o bebê pronunciar as primeiras palavras, por exemplo. E, ao longo da vida, crescemos com muito incentivo para a expressão verbal. Muitos se esquecem, porém, de que a comunicação assertiva se dá primeiramente pela escuta. Como influenciar as pessoas à nossa volta sem antes ouvir suas necessidades, desejos, dificuldades? Impossível!
JB: O que é a escuta atenta?
WV: É ouvir com atenção e estar, de fato, presente. O ser humano tem uma necessidade intrínseca de conectar-se com os outros, e a escuta atenta acelera essa conexão. Quando você ouve atentamente, está demonstrando que se importa verdadeiramente com o outro. E isso nos coloca em posição de vantagem, já que nos faz ver coisas que os outros não veem e nos torna capazes de apresentar soluções mais eficazes e criativas.
JB: O quanto a habilidade de saber ouvir é benéfica para a carreira?
WV: Como disse o escritor Stephen Covey, "a maioria das pessoas não escuta com a intenção de entender, mas de responder". Os profissionais que escutam com atenção interpretam melhor o que é dito, compreendem mais facilmente as instruções recebidas, são mais focados no que fazem e, consequentemente, comunicam-se com mais assertividade. Além disso, ganham tempo porque o foco traz agilidade e profundidade, independentemente da função que estejam desempenhando.
JB: O quanto isso é valorizado pelas empresas?
WV: Se o profissional é bom ouvinte, isso é percebido pelos gestores e colegas de trabalho - e, com o tempo, torna-se um diferencial, especialmente para quem deseja alcançar uma posição de liderança.
JB: De que forma a escuta atenta ajuda um líder?
WV: Tem papel fundamental, já que a confiança se estabelece mais facilmente quando o líder está disposto a escutar seus liderados. Sem saber ouvir, ele não saberá influenciar nem persuadir as pessoas - isso só acontece, de fato, quando entramos no mundo do outro, entendemos seus pensamentos e as razões que os levam a agir de determinada maneira.
JB: Quem tem dificuldade de concentração, por exemplo, pode buscar orientação profissional para desenvolver melhor a habilidade da escuta?
WV: Sim. Há várias formas de desenvolver essa habilidade. Meditação ou práticas de Mindfulness são excelentes para isso. A Técnica Pomodoro ajuda a desenvolver o foco e a concentração. Para quem percebe que não está conseguindo se desenvolver sozinho ou deseja agilizar o aprimoramento, sugiro procurar um coach - que ensinará técnicas de aprimoramento dessas habilidades - ou um mentor - que, além de ouvir com profundidade, poderá compartilhar seus conhecimentos sobre o assunto.