Colaboração, alicerce da estratégia
No mercado de cosméticos, a Natura se destaca pelo uso de ativos da biodiversidade brasileira e pela preocupação socioambiental. Para inovar com base nesses princípios, a empresa valoriza a colaboração. O alicerce da estratégia é o Natura Campus, programa que desde 2003 procura estabelecer parcerias e conexão em redes para pesquisa e desenvolvimento. Frutos dessa iniciativa no campo das embalagens, como a adoção de resinas renováveis, são comentados nesta entrevista por Flavia Bartholomeu Campos, gerente de desenvolvimento de embalagens da área de cuidados pessoais da Natura.A importância da colaboração é evidente. Não teríamos conseguido implantar diversas inovações dos últimos anos sem o apoio de parceiros. Em certos casos, teria levado muito mais tempo se fizéssemos sozinhos. E o custo alto poderia nos ter feito desistir de projetos." Flávia Bartholomeu Campos, Natura
Quais os ganhos obtidos pela Natura com a prática da inovação colaborativa?
Flávia Campos
- É difícil quantificar os ganhos, falar em números. Mas a importância da colaboração é evidente. Não teríamos conseguido implantar diversas inovações dos últimos anos sem o apoio de parceiros. Em certos casos, teria levado muito mais tempo se fizéssemos sozinhos. E o custo alto poderia nos ter feito desistir de projetos. Esse é um benefício evidente da inovação aberta: existe compartilhamento de riscos e investimentos. O interesse pelo sucesso da inovação é de todos os participantes. Os frutos, depois, são divididos. Nossa vocação é o atendimento do consumidor. Os parceiros contribuem com conhecimentos que não são nosso foco, que não temos condições de ter.
Como as parcerias têm auxiliado a empresa a desenvolver embalagens inovadoras?
Flávia Campos
- A cadeia de valor de embalagens tem nos apoiado bastante. Para a adoção de frascos parcialmente ou integralmente feitos de plástico reciclado em nossa linha Natura Ekos, a colaboração foi essencial para superarmos um desafio no Brasil, que é a obtenção, com regularidade, de material reciclado de qualidade. Entre outros exemplos, a interação com o mercado fornecedor também nos permitiu sermos pioneiros, na indústria de cosméticos, no uso em larga escala do I'm greenT, Plástico Verde produzido pela Braskem a partir do etanol da cana-de-açúcar. A aplicação do material, em embalagens e refis de linhas como Natura Ekos e Natura Tododia, foi um sucesso - e alinha-se ao nosso compromisso com práticas mais sustentáveis, na medida em que o biopolímero ajuda a reduzir os níveis de carbono da atmosfera.
Como funciona o Natura Campus, programa de inovação aberta da empresa?
Flávia Campos
- Ele é um espaço de colaboração e construção de relacionamento com instituições de ciência e tecnologia, empresas e empreendedores. O objetivo é que todos colaborem para a geração de inovação e valor compartilhado. Periodicamente o programa publica chamadas e desafios, convidando colaboradores a apresentar ideias de ruptura para desenvolvimento em parceria. Também há oportunidade para o que chamamos de inovação proativa. Agentes externos têm liberdade para acessar nossos times técnicos e propor inovações desvinculadas dos editais. Temos um website que detalha o programa (www.naturacampus.com.br).
Flávia Campos - Acho que o cenário evoluiu bastante nos últimos seis anos. Temos até empresas que são referências nesse modelo de gestão da inovação, como a Embraer. Mas não diria que já é uma prática comum. As pessoas ficam um pouco perdidas e desconfiadas. Existe insegurança por causa do modelo mental antigo, cercado por segredo, tudo fechado. Ainda há certa resistência. Mas acreditamos que será inevitável aceitar essa forma de trabalho. A tecnologia e a sociedade caminham para os processos serem mais abertos, mais transparentes, mais colaborativos. Tudo favorece a cooperação.